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Mergulho
O mergulho autônomo (com cilindro) é uma atividade extremamente prazerosa, porém o ambiente subaquático apresenta uma série de particularidades que afetam todo o nosso corpo. Neste texto nós vamos enfocar principalmente os efeitos das mudanças de pressão nas cavidades aéreas da cabeça, ou seja os ouvidos e os seios paranasais da face.
Nesta seção você irá conhecer:
• As partes do ouvido
• Os efeitos da pressão nos ouvidos
• As formas de compensação
• Os efeitos da pressão nos seios paranasais
O ouvido
O ouvido humano é dividido em 3 partes:Ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno A principal função deste órgão é transformar as vibrações mecânicas do ar em estímulos elétricos que serão percebidos pelo cérebro como som. Além disso no ouvido interno está alojado o “labirinto”que é o órgão responsável pelo nosso sistema de equilíbrio.
O ouvido externo
O ouvido externo é composto pelo pavilhão auditivo externo e pelo conduto auditivo externo. Logo em sua entrada o conduto é protegido por pêlos que impedem a entrada de partículas maiores ou animais, principalmente insetos. As paredes do conduto são recobertas por pele, e a descamação desta pele somada à produção das glândulas ceruminosas forma o cerúmen que é responsável por lubrificar a região do ouvido externo, prevenindo lesões por umidade, infecções, entrada de insetos, etc.
"Quando o cerúmen se acumula em demasia pode formar verdadeiras rolhas que causam diminuição da audição e precisam ser removidas"
O ouvido médio
A separação entre o ouvido externo e o ouvido médio é feita por uma fina membrana que veda completamente o canal, chamada membrana do tímpano.
O ouvido médio, diferentemente do ouvido externo é recoberto totalmente por mucosa, portanto deve ser mantido isolado da água. Esta é a principal função da membrana timpânica. Além disso ela também auxilia na amplificação da força mecânica do estímulo sonoro.
Acoplado ao tímpano está o primeiro dos 3 ossículos do ouvido, o martelo. Se articulando ao martelo temos a bigorna, e finalmente o estribo. Estas articulações também funcionam amplificando a força da vibração. O estribo irá transmitir essa vibração para dentro do ouvido interno através de uma abertura chamada janela oval.
Como dentro do ouvido interno temos líquido e não ar, e o líquido é um meio inextensível, existe uma outra janela que se abre no ouvido médio para acomodar as incursões do estribo, chamada janela redonda.
O ouvido médio tem um canal que o comunica com a cavidade nasal, que é a chamada tuba auditiva. A tuba é formada por cartilagem e fica normalmente fechada se abrindo com movimentos como engolir, assoar o nariz, bocejar, etc.
O ouvido interno
O ouvido interno é a única parte do ouvido onde não existe ar. Ele está dentro de uma cavidade óssea e é formado por membranas que contém líquido em seu interior (perilinfa e endolinfa). Por este motivo, o ouvido interno não sofre alterações com a variação da pressão externa.
O ouvido interno tem 2 partes, a parte auditiva que se inicia na janela oval e tem formato de caracol, chama-se cóclea. É aí que a vibração mecânica é transformada em estímulos elétricos que serão transmitidos pelo nervo auditivo até o cérebro.
A outra parte é formada pelos canais semicirculares e pelo vestíbulo e tem a função de fornecer informações sobre a nossa posição no espaço auxiliando no equilíbrio.
Efeitos da pressão nos ouvidos
A pressão atmosférica causa efeitos em cavidades preenchidas por ar. No caso dos ouvidos, o principal envolvido é o ouvido médio, já que esta parte do ouvido fica normalmente isolada do meio externo.
Com o aumento da pressão externa, que pode ser quando se desce a serra, durante o pouso de um avião ou durante o mergulho, ocorre uma retração do ouvido médio. Com isto, o tímpano se retrai e a mucosa começa a exsudar, ou seja a liberar líquido. Este fenômeno causa dor, e caso esta diferença de pressão não seja equalizada pode ocorrer sangramento da mucosa ou até perfuração do tímpano.
Para a equalização é necessário que a tuba auditiva se abra, normalmente através de alguma manobra como engolir em seco, bocejar ou tentar assoprar o ar com os narizes tampados. Os problemas ocorrem quando alguma condição impede a abertura da tuba auditiva, por exemplo um quadro de resfriado, gripe ou sinusite que causa inchaço da região do nariz, ou a presença de adenóides ou pólipos nasais, ou então crises de rinite alérgica.
"A lesão do ouvido ocasionada pela pressão chama-se Barotrauma"
Caso ocorra uma lesão do ouvido pela pressão (barotrauma) é importante que o paciente pare de se submeter a estas variações de pressão e procure ser avaliado por um médico. Caso estes episódios sejam freqüentes uma avaliação com o otorrinolaringologista é necessária para se diagnosticar alguma das condições já citadas.
Os barotraumas de ouvido médio podem ser classificados em graus:
Grau I: apenas vermelhidão da membrana timpânica.
Grau II: preenchimento do ouvido médio por secreção clara.
Grau III: preenchimento do ouvido médio por sangue.
Grau IV: perfuração da membrana timpânica.
Apesar do ouvido médio ser mais comum , o ouvido externo também pode ser sede de barotraumas. Isto irá ocorrer se alguma coisa obstruir completamente o conduto auditivo externo, criando uma cavidade fechada preenchida por ar. Exemplos de condições em que isto pode ocorrer são as rolhas de cerúmen, os protetores auditivos e os capuzes das roupas de mergulho, principalmente de roupas secas ou semi-secas em que a vedação é completa. Nestes casos normalmente forma-se um hematoma no conduto.
As lesões de ouvido interno, raríssimas, ocorrerão quando o barotrauma de ouvido médio for tão violento que o estribo se projete rapidamente para dentro do labirinto e consequentemente haja um explosão da janela redonda. Nestes casos notamos tontura intensa e perda importante da audição. Estes casos são potencialmente perigosos por exemplo durante um mergulho, em que o quadro de vertigem intensa pode desorientar o paciente e fazer com que ele afunde ou perca o regulador.
Não devemos confundir entretanto o barotrauma de orelha interna com uma outra possibilidade que pode ocorrer principalmente em mergulhos em água fria. Caso haja uma perfuração timpânica (barotrauma de ouvido médio grau IV) a diferença de temperatura da água que invadiu o ouvido médio e os líquidos do ouvido interno provoca movimentação destes líquidos e tontura.
Como equalizar a pressão nos ouvidos?
Para garantir uma boa equalização primeiramente é necessário que não existam obstruções da tuba auditiva. Isso inclui a ausência de quadros inflamatórios da região do nariz e dos seios paranasais, como gripes, resfriados, sinusites e crises de rinite alérgica. Caso essas condições estejam presentes é importante tratá-las para minimizar os riscos de um barotrauma.
Para a abertura da tuba auditiva diversas técnicas podem ser utilizadas. Como a tuba está ligada aos músculos da garganta e do céu da boca, movimentar esses músculos pode ajudar. Por exemplo engolir em seco, bocejar, mascar chiclete e movimentar a mandíbula lateralmente. Além disso, a insuflação de ar pela tuba pode ajudar, sendo o método mais utilizado a compressão das narinas associado ao ato de assoprar com a boca fechada, sentindo o ar fazer pressão nos ouvidos. Uma dica importante é que nunca devemos forçar a equalização se estivermos sentindo dor nos ouvidos. Nesses casos, a membrana timpânica está tão empurrada para dentro, que o movimento súbito de descompressão pode fazer com que ela se rompa. O correto é ascender um pouco na água, para que a dor volte a ser apenas uma pressão, e aí sim proceder as manobras de equalização.
Efeitos da pressão nos seios paranasais
Os seios paranasais são cavidades existentes em alguns ossos do crânio, preenchidas por ar e revestidas por mucosa. Elas podem ser sede de diversas doenças, mas nosso interesse aqui é que por serem cavidades aeradas elas sofrem as variações de pressão. Diferentemente do ouvido, os seios da face tem todas as paredes rígidas (não existe o “tímpano”) e sua comunicação com o nariz está sempre aberta (óstios). Por isso, normalmente não temos dificuldade em equalizar a pressão nem na descida nem na subida do mergulho. Porém, em alguns casos como gripes, resfriados, rinites, polipose nasal, etc. estes óstios podem estar obstruídos, total ou parcialmente, e iremos experimentar dor no momento da variação de pressão. Como não existe uma tuba auditiva para os seios da face, a equalização forçada é mais difícil, e muitas vezes a dor impossibilita o mergulho. Também é comum que após o mergulho notemos um pouco de sangue na máscara, isso quase sempre indica que houve algum barotrauma sinusal (nos seios).
Dr. Fabrizio Romano